Ah, o amor!
Aprendemos desde cedo que o amor supera tudo. No começo descobrimos que foi esse sentimento que fez com que a Bela superasse a questão bestial da fera e tornasse a vida humana de novo. A Jasmine e o Aladdin venceram o problema econômico, assim como a Cinderela. Além disso, vários outros filmes ao longo da nossa vida nos mostraram que o amor tudo pode. E amar dessa forma parece realmente incrível, não?
Só que chega a maturidade, bem como a idade adulta, e nós percebemos que a vida não é uma comédia romântica e ficamos um pouco decepcionados com isso (principalmente com o fato de não termos uma trilha sonora ao fundo). Mas continuamos a ver filmes e a ler livros do gênero — bom, pelo menos eu gosto — por algum motivo que não sei explicar. Além disso, se a história for muito boa ainda tem a maldita ressaca literária. Enfim, o ponto que quero chegar é: na comédia romântica o amor supera tudo, mas até que ponto levar essa premissa para assuntos mais sérios é legal e em que momento passa a ser leviano?
“As pesquisas mostram sempre que os riscos do consumo de álcool para a saúde superam os benefícios. Meu argumento é que os benefícios para a saúde mental justificam os riscos.”
Em seu livro O Projeto Rosie, Graeme Simsion cria um personagem com problemas sociais e o torna o alívio cômico principal da história. Mas o que não é dito em nenhum momento é que Don Tillman tem Síndrome de Asperger e por isso a socialização é tão difícil para ele. Apesar de não falar isso com todas as palavras, a questão do autismo fica óbvia em vários momentos do livro, inclusive (e até principalmente) após o próprio personagem ter ministrado uma palestra sobre o assunto.
Justamente por ter tanta dificuldade de se relacionar com outras pessoas que Don só tem dois amigos, apesar de em algum momento já ter tido quatro. É por isso também que ele criou o Projeto Esposa, um questionário, possível de ser respondido presencialmente ou online, que irá eliminar qualquer parceira que não esteja apta a se relacionar com ele. Assim, Don conseguirá driblar sua dificuldade de sociabilização e irá interagir somente com as mulheres que se encaixam em seu perfil.
No entanto, independentemente de qualquer pergunta feita previamente, Rosie surge na vida de Don e ela passa a ser a 3 amiga do personagem. Um objetivo em comum os une e à medida que as interações entre os dois aumentam, fica cada vez mais fácil para ele se relacionar com ela. O final é previsível e todo mundo aqui já sabe, até porque o título já entrega isso de bandeja na capa.
“As pessoas podem falar sobre as supostas características de um geminiano ou taurino e passar cinco dias assistindo a uma partida de críquete, mas não conseguem encontrar nem interesse nem tempo para aprender o básico sobre aquilo do qual nós, seres humanos, somos feitos.”
O texto é divertido e bem agradável de ler, o que me incomoda na história é a doença do personagem principal, que em nenhum momento é abordada diretamente. As cenas engraçadas geralmente são resultado do autismo dele e isso para mim não teve o alcance cômico intencionado. Queria muito conversar com alguém que tenha um parente próximo com Síndrome de Asperger e que tenha lido o livro para saber se alguma parte da história chegou até a ser um pouco ofensiva.