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Brooklyn — O que o filme não mostrou

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Há um tempo comprei o livro Brooklyn na livraria da Travessa, simplesmente porque gostei do nome e de ser um livro de época. A história é simples, mas a escrita leve e graciosa fez com que eu devorasse o livro ao invés de simplesmente ler. Não lembro se li em 1, 2 ou mais dias, isso não vem ao caso. O importante é que não lembro de sentir o tempo passar através de sua leitura fluida e extremamente envolvente.

Agora com o começo da temporada de premiações de cinema, Tv e música descobri que o livro tinha virado filme e assim que pude corri para assistir a história na telona. O longa é muito bom, talvez não tão envolvente quanto o livro, mas muito bem executado.

Como é de se esperar há diferenças entre as duas versões e escrevi alguns pontos do livro que senti falta quando assisti o filme:

1 – Família

No filme parece que a Eilis só tem a Rose e a Mãe como parte da família, no entanto no livro ela tem outros três irmãos, que moram na Inglaterra. Acho isso muito importante principalmente por causa do final do filme, que não vou falar aqui porque odiaria estragar essa história para alguém.

2 – Trabalho

No trabalho, na loja Bartocci’s, ela não lida direto com a srta. Bartocci, e sim com uma supervisora chamada srta. Fortini, que era bastante dura, mas ao mesmo tempo bem compreensiva. Tanto que quando Eilis conta para a srta. Fortini que foi chamada para ir à praia, a chefe lhe diz que tem uma amiga que trabalha numa loja de roupas de banho que são muito melhores que os da loja em que elas trabalham. Assim, a supervisora avisa que vai receber uns trajes para testes e que Eilis poderia experimentá-los. Nesse momento Eilis de fato é apalpada pela chefe, mas não pela dona da loja como aparece no filme e sim pela supervisora.

A srta. Bartocci aprece em cena no livro em um momento muito difícil para Eilis, que é quando ela recebe as primeiras cartas de casa e fica muito triste. Nessa parte a srta. Fortini repara nos olhos vazios e melancólicos de Eilis e pede para que ela saia da loja e vá para área dos funcionários. Depois de um tempo esperando, a srta. Fortini aparece com um sanduíche para Eilis e em seguida a srta. Bartocci aparece com o padre Flood para conversar com a saudosa irlandesa.

Por que achei isso relevante? Primeiro para dizer que a srta. Bartocci era uma figura de admiração para Eilis, que ela via como um ser superior, mas que quando necessário soube lhe trazer conforto. E em segundo lugar, porque o filme não mostrou a supervisora de Eilis, que foi muito importante para aumentar a confiança dela no trabalho.

3 – Meias de Náilon

As meias de náilon da Bartocci’s realmente são assunto no jantar da pensão, mas isso pouco importa. O que é realmente relevante é que as tais meias da loja são famosas pela qualidade. Quando as pessoas negras começam a frequentar o Brooklyn também o fato não passa desapercebido, com isso a Bartocci’s pretende receber de braços abertos qualquer pessoa de qualquer cor que pretenda entrar na loja e fiquei muito triste do filme não abordar esse tema tão importante até hoje.

Com a chegada dos novos clientes a loja passa a vender meias de variadas cores que combinariam com os diferentes tons de pele, por mais capitalista que isso seja, achei legal a srta. Bartocci se preocupar em diversificar seus produtos para as diferentes tonalidades de pele. Além disso, Eilis como uma boa vendedora e de bastante confiança da srta. Fortini será encarregada, junto com uma outra funcionária, das novas clientes e por isso eu escrevi no item anterior que a supervisora é importante no que diz respeito a auto-confiança da personagem principal.

*Siga em frente com a leitura apenas se você viu o filme ou não se importa com spoliers*

4 – Retorno ao lar

Eilis volta para Irlanda e se envolve com Jim. O que o filme não mostra é que Eilis e Jim já se conheciam e que ele havia desprezado a companhia dela num baile anteriormente; isso deixou Eilis magoada e irritada. Depois de sua temporada na América, Eilis volta deslumbrante e super confiante para sua terra natal, o que desperta a curiosidade de todos, inclusive de Jim. Acho que num primeiro momento Eilis se deixa levar pela sedução de Jim devido a uma questão de ego, ele que antes havia desdenhado de sua companhia agora olhava para ela cheio de desejo. Depois creio que ela realmente se envolveu com ele. A gente perdoa Jim pelo mal comportamento com Eilis no começo do livro quando descobrimos que naquele momento ele tinha acabado de perder a noiva com quem havia sonhado em se casar.

Ao ser abordada pela srta. Kelly, que é bem pior no livro, infelizmente a Eilis literária não é tão confiante quanto a Eilis cinematográfica. Ela sai da casa da antiga chefe correndo e remarca sua volta para os Estados Unidos. O diálogo entre mãe e filha é bem parecido em ambas versões, mas a despedida de Jim não. No filme Eilis deixa uma carta para o suposto amante, no livro ela vai embora sem dizer nada, mas ela cogita sim contar para ele sobre Tony e conseguir apoio em relação a um possível divórcio, isso nos mostra uma Eilis realmente apaixonada pelo irlandês e não apenas brincando com os sentimentos dele.

No entanto o filme nos dá um final mais fechado, mostra Eilis feliz ao retornar para seu italiano enquanto o livro termina com ela sentada no trem começando sua jornada de volta e apenas imaginando como seria a reação de Jim ao saber que ela foi embora. Eu, particularmente, gosto muito do Tony e gostei de vê-los juntos novamente no final do filme.

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