Nazismo latino americano

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Sempre me incomodou o fato de que, generalizando um pouco, o patriotismo do brasileiro surge de 4 em 4 anos e tem a duração de uma copa do mundo. Enquanto isso, nos Estados Unidos, por exemplo, muitas casas estendem a bandeira do país nas janelas diariamente, os filmes locais geralmente possuem a bandeira hasteada em alguma cena e nos pontos turísticos o emblema do sonho americano é vendido a preços acessíveis. No entanto, sabemos muito bem que o excessivo amor à nação é capaz de fazer, afinal, nada por melhor e mais bem-intencionado que seja é saudável quando levado ao extremo.

A autora Isabel Moustakas ilustrou bem a ideia fascista verde e amarela em seu livro Esta Terra Selvagem. O texto é por vezes revoltante, fiquei com raiva, nojo, desgosto da narrativa, mas impossível não dizer que ela é instigante e que li de capa a capa, assim, de uma vez só de tão entranhada que eu estava na leitura.

O livro é escrito em primeira pessoa e a história é contada por João, um jornalista do Estadão que conseguiu uma entrevista exclusiva com Martha, vítima de um sequestro asqueroso. Ela, com apenas 16 anos, parecia que já tinha passado pelo inferno e assim que termina de contar, assustadoramente calma, para ele tudo que lhe tinha acontecido ela se mata. Após esse acontecimento João recebe o diário da garota e através das anotações feitas nele que o jornalista vai conseguindo cada vez mais pistas do que está acontecendo. O sequestro de Martha tinha sido apenas um aviso e ela viveu justamente para poder espalhar a notícia de que o pior ainda estaria para acontecer.

Realmente, os crimes ficaram cada vez mais bárbaros e a gangue que os cometiam usava coturnos com cadarços verde e amarelo, camisa branca e cabeça raspada. A intenção deles era limpar o Brasil de tudo que consideravam ruim: estrangeiros, nordestinos, homossexuais e boêmios. E João estava mais envolvido com estes radicais do que sequer imaginava.

“Então, Ágata sugeriu que ele procurasse a polícia. Juro. Ele arregalou os olhos, e acho que eu também. Vai lá com essa sua careca, ela desafiou, essa camiseta suja, esses coturno, esse discurso de bosta. Vai lá, vai. Tomara que o escrivão seja cearense. Depois volta aqui e me conta no que deu.”

*post feito em parceria com o blog Um Metro e Meio de Livros

Uma resposta »

  1. Olá, gostei bastante de seu post, especialmente por ressaltar um livro que eu não conhecia. E imagino mesmo que o texto deva ser revoltante, além de causar inúmeras sensações, imagimo eu. Vou procurar mais informações sobre a autora, Isabel Moustakas.
    Beijos, Fer

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  2. Oi!
    Realmente um livro tenso e denso. Acredito que o patriotismo do brasileiro aconteça em momentos seletivos e que a onda fascista que assombra o país tá absurda, mas preciso ler esse livro e entender melhor o que é falado nele para poder opinar. Já que é um tema delicado. Anotei a dica e fiquei curiosa 😀

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  3. Olá!
    Muito bom você ter começado seu texto com uma crítica ao patriotismo, que realmente só acontece na copa do mundo ou em movimentos sociais que todos estão indo. Gostei muito da premissa do texto, é um tema bem forte e necessário de ser discutido
    Beijos.

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  4. Ainda não conhecia o livro e fiquei bem interessada. Concordo com você sobre o patriotismo sazonal que existe no Brasil, porém, existem exceções, poucas, mas existem. Na minha casa, ostento uma bandeira do Brasil e meu filho cresceu conhecendo de perto o símbolo, porém não sei exatamente se isso me torna uma patriota, uma vez que não me orgulho de muita coisa que temos aqui.
    Quero muito ler o livro e ficar impressionada com a história também. Acho que a leitura será bem pertinente.
    Beijos

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  5. Olá!
    MEU DEUS! Estou arrepiada ao concluir sua resenha. O patriotismo, como você disse, acontece a cada 4 anos e, ouso dizer, nem nessa época acontece de verdade, pois é tanta barbaridade que vejo que isso desanima demais.
    Fiquei bem interessada nessa leitura, pois o livro parece ser intenso e muito bem escrito. Além disso tudo, ele é real. Lembra-se de quando tivemos a reeleição de Dilma, que queriam ‘dividir’ o Brasil? Acho que isso pode acontecer muito em breve – se é que já não acontece e não sabemos.
    Anotei a dica e parabéns pela incrível resenha.
    Beijos ♥
    Um Oceano de Histórias

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  6. Oi, tudo bem?
    Eu não conhecia o livro e imagino que apesar do tema denso, realmente é impossível parar a leitura antes da última página. Tudo em excesso se transforma em algo doentio, até mesmo idolatrar o país pode acabar incitando a intolerância e infelizmente acabamos nos deparando com essas situações no dia-a-dia. Acredito que a leitura desse livro seja um prato cheio para grandes questionamentos. Muito interessante mesmo, dica anotada!
    Beijos

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  7. Oi, só pela capa já imagino uma leitura densa. A sua resenha complementa isso, não é meu estilo de leitura, mas é sempre bom ler sobre livros variados. Até mesmo para presentear pessoas ue gostem desse estilo. Ficarei atenta a talvez outros tipos de texto dessa autora.

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  8. Não fiquei com nenhuma vontade de ler o livro. Essas narrativas que nos deixam com raiva, nojo e desgosto e que possuem um texto revoltante realmente não são pra mim. Que coisa mais maluca a menina contar sobre o sequestro e em seguida se matar! Com certeza não teria estômago para esses crimes bárbaros. Apesar de ser um livro diferente, não leria.

    Beijo!

    Ju – Entre Palcos e Livros

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  9. Olá, tudo bom? De fato esse patriotismo brasileiro de quatro em quatro anos é algo que beira ao ridículo e costuma me incomodar muito, mas, como você mesma disse, quando esse amor pela pátria é exacerbado é algo muito perigoso. Apesar de o livro lhe dar nervoso e causar revolta – quase repulsa – eu fiquei interessada no mesmo. É um tema diferente, interessante e que também precisa ser debatido, para que fatos históricos passados não voltem a acontecer. Adorei a indicação do livro e está em minha lista de leitura agora.

    Beijos!
    @PollyanaCampos
    Entre Livros e Personagens

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  10. Caramba, que profundo. Confesso de que gosto de ler coisas assim, só para me torturar um pouco. Mas na verdade esse tipo de livro também me faz pensar muito, preciso leeeeeer!
    Adorei a resenha, beijos.
    @Laymach_

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